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365 Noites


Finalmente, o fim do ano chegou, tanto tempo que não participava de uma festa, estava realmente precisando de algo pra me distrair, mais do que um simples álbum de fotos e musicas de fundo. Comumente toda a família se reúne aqui em casa, e dessa vez recebi uma surpresa, veio o pessoal que de outro estado que não via a muito tempo, pude matar a saudade daqueles que só via apenas naquele antigo álbum de fotos. Chegando meia noite, começaram os fogos no céu, todos se abraçaram, e eu observava a todos não por estar solitário e sim, por observar toda a situação ao meu redor. Escutava apenas duas coisas: fogos e votos de feliz ano novo. E via apenas duas; sorrisos e a luz que parcialmente ofuscava minha visão. Aquilo me encantava.

Como em todo fim de festa, o resultado são copos sujos, manchas e, com sorte, menos de três objetos quebradas pela casa. Depois de arrumar certas coisas importantes e de um banho rápido e quente, fui até a varanda onde tinha deixado mais cedo duas cadeiras e me sentei por um instante. Fiquei observando o horizonte em meio a cidade, ou o que podia ver. Era bem tarde, na verdade cedo, quase de manhã, então foi aí que encontrei no meio do espaço vago do céu uma estrela, que mesmo não sendo cadente, fiz um pedido, no minimo, esperançoso: " Em meio a tantos pedidos que devem estar sendo feitos a você nesse exato momento, sei que não tem obrigação de atender logo o que eu faço agora, mas vou dizer e verá que o que penso não é muito, não peço que eu fique rica esse ano, nem que fique famosa, peço apenas que minhas escolhas sejam precisas, talvez você não tenha o poder, mas está tão perto do topo do céu, que se seu brilho chega até aqui, talvez chegue até alguém que tenha esse poder."

Mas como num toque de mágica as avessas, todo o ano foi como um pesadelo sem fim, notas baixas, trabalhos fracos com cobranças dobradas, cada um dos 365 dias do ano como um teste intenso da vida jogado caprichosamente de um prédio bem em cima de meus ombros, um cruel bem-vindo à vida. Sentia medo do que poderia encontrar no dia seguinte. O que poderia acontecer ao longo das horas, se seria capaz de fazer o que me pediriam. Será que as palavras me fariam ir a frente ou regressar? A incerteza me dava medo. Sentia saudade de todos aqueles abraços do passado, sentia saudade das risadas na roda de amigos durante a tarde, das foto fazendo caretas, dos apelidos. Me segurava para não cair no choro com todas aquelas lembranças e decepções. Eu senti saudade de mim mesma.

O fim do ano estava perto e sentia como se faltassem mil dias para dezembro. Já não aguentava mais tudo aquilo, o peso parecia só crescer, e os resultados, onde estão os resultados? Por que tudo isso está acontecendo? Me perguntava isso todas os dias antes de sair da cama. Perguntava, onde está você estrela cadente que não me escutou? Por que está me ignorando e fazendo tudo ao contrario do que pedi? Por acaso disse algo que te ofendeu, algo que não gostou? Então, pedi mais uma vez para que parasse, não precisaria mais me ajudar, não por magoa, mas já não aguentava aquilo.

Então, de repente, em um olhar perdido em um canto, escondido, vi um garoto que me parecia muito simpático porém, solitário. Cheguei perto dele disfarçadamente e, em silêncio, não falei nada, pois era muito tímida. E, ainda assim, mesmo sem pronunciar uma sequer palavra, me senti tão intima, como se o conhecesse há anos. Aquela solidão era minha, meu olhar perdido era o mesmo que o dele, o medo, aquele medo de perder era o mesmo que o meu. Uma vontade de abraçá-lo e chorar em seu ombro me bateu exatamente cinco minuto depois de passar ao seu lado em silêncio. Senti como se fosse minha pilastra ali, na minha frente, e mesmo que já rachada e abalada era minha unica é fiel pilastra. Dias depois descobri o nome dele e o porque dele estar tão isolado. Marcos - era seu nome - não falava há dois anos por um problema de socialização. Resolvi me aproximar dele, criamos uma amizade muito forte, entretanto, Marcos só se comunicava apenas escrevendo em blocos e passando para que pudesse ler.

Então, na ultima semana do ano, prestes a saber meus últimos resultados da faculdade, sem saber se passaria ou não, fui a ultima a sair da sala. Observava todo aquele espaço vazio. Era silêncio, tão silêncio que conseguia ouvir o eco da minha voz. Então, depois de um longo suspiro, ouço passos vindo em direção a sala. Sequei rapidamente minhas lagrimas e olhei para baixo, quando sinti uma mão em meu queixo fazendo com que meu rosto olhe para cima. Era Marcos me mostrando bem perto de meus olhos o bloco dele em branco. Curiosa com aquela situação perguntei o que significava, então, para minha surpresa, Marcos com muita dificuldade falou: "Confie em...confie em mim." Me surpreendi com a cena, depois de dois anos Marcos falou algo! Então, para uma surpresa maior ainda ele completou: "Tudo vai dar certo."

Depois do acontecimento que presenciei, me emocionei com seu esforço e com as palavras. Ficamos abraçados durante alguns minutos naquela tarde chuvosa e, apesar de todos pensarem, nunca aconteceu nada entre eu e ele. Marcos teve que voltar para sua cidade com sua família logo após o curso. Passaram-se mais dois anos e eu? Eu consegui. Para o fim de toda minha agonia, eu consegui alcançar meu objetivo e levo até hoje comigo as palavras de Marcos no coração, e com ele aprendi algo que nunca esquecerei: tudo na vida que venha a ser ruim ou de alguma forma pesado são períodos, mesmo que demorados eles passam. É como o vento moldando uma rocha bruta: no fim, será tão linda quanto no começo. Dure o tempo que durar. A vida age em fases, cabe a você observar os detalhes por aí que farão sua força de vontade ser eterna.



2 comentários:

  1. Texto muuuito bom.
    Bem reflexivo, sem falar que transpareceu muito bem os seus sentimentos e todas as sensações que você sentiu.
    Um dos melhores que eu já li aqui no blog, tá de parabéns!
    Beijos
    http://elasdisseram.com

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    1. Ah, que isso, imagiiina! muuito obrigado, tá? gentileza sua falar isso!
      volte sempre que terão sempre outros textos, beijos!

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